Achar que ainda não sabe o suficiente para dar os primeiros passos para começar a empreender o seu serviço é algo bastante comum, principalmente no caso de mulheres que estão realizando uma transição de carreira e querendo atuar em uma área nova. Vejo isso com uma certa frequência nos meus atendimentos.
Para além da já tão conhecida “síndrome do impostor”, existem outros fatores que fazem com que você sinta que precisa de mais conhecimento para que possa começar.
Falo em “mais conhecimento” porque geralmente a busca é por mais um certificado, mais um curso, mas teoria sobre o serviço que você deseja prestar. Não falo em “mais experiência” porque experiência de verdade exige prática, e a dificuldade é exatamente essa: partir pra ação..
Existem alguns fatores que fazem com que você se sinta insegura e despreparada para dar o primeiro passo.
A Idealização de “como deveria ser” a sua entrega é um deles. Idealizar um nível de qualidade e excelência que foge da sua capacidade no momento. Entenda: você é capaz de entregar um serviço de qualidade com o que você já tem em mãos (pelo menos, é o que eu espero), mas você vai precisar de prática para melhorar ainda mais o nível de entrega do seu serviço.
É impossível começar alcançando todas as (suas) expectativas. Querer começar partindo do ponto “ideal” é uma forma que o seu inconsciente encontra de proteger você de errar e se frustrar. De se sentir insegura e vulnerável (sentimentos absolutamente comuns em quem está começando).
A idealização é sempre acompanhada pela falta de consciência. Feche os olhos, respire fundo e se pergunte: “o que precisa acontecer para eu sentir que estou pronta? Quando vou ter certeza de que já sei o suficiente?”
As respostas que eu mais escuto são coisas do tipo “vou estar segura, confiante, terei muito conhecimento. Vou ter uma sensação de certeza”.
Foi o que você pensou?
Perceba que essas são coisas extremamente intangíveis, vagas e ainda no campo da idealização. Quando questiono sobre o que precisa acontecer para que a cliente se sinta dessa forma, a resposta costuma ser “não sei” ou “ter mais conhecimento”, mas sem uma definição do quanto mais é necessário.
São resultados que, por não serem específicos, nunca serão alcançados. Se optar por fazer mais um curso, você pode ter certeza que ainda vai se sentir insegura quando acabar e, logo em seguida, vai buscar sua segurança em algum outro. E em outro, e em outro...
É a experiência prática que te dá essa segurança.
Um outro aspecto que interfere nessa questão é se comparar com outras pessoas, principalmente com aquelas que já estão mais avançadas do que você. Aquele sentimento de que os outros sempre são melhores do que você, sabem mais, tem mais experiência, se expressam melhor.
“Eu já deveria ter conhecimento o suficiente para ser como ela. Não deveria ter a mesma confiança e ter toda aquela expertise no assunto?”
Se comparar com outro profissional é a mesma coisa que tomar veneno e ir se matando aos poucos. Eu sei bem como é fazer isso e o quanto isso nos desanima pra continuar fazendo o que queremos fazer.
Entenda que o outro é o outro. Vive um momento diferente do seu, passou por situações diferentes, teve uma vida completamente diferente. E, também, entenda que o que você enxerga dessa profissional é apenas um pedacinho da realidade dela. Isso sem contar que, provavelmente, essa pessoa começou muito antes que você. Já tropeçou, caiu, testou, se arriscou e vivenciou o trabalho dela para ter conquistado a experiência que possui hoje.
Pra quebrar esse vidro, pode ser interessante ir conversar com uma pessoa que você admira e com a qual se compara, e perguntar sobre como ela começou, quais eram as dificuldades, o que ela penou pra aprender, como ela se sentiu nesse processo.
Um terceiro ponto é não se apropriar do que você sabe. Se você sente que não tem conhecimento o suficiente, pegue uma folha de papel e uma caneta e comece a listar tudo o que você já sabe e que que pode ser utilizado no seu serviço (direta ou indiretamente). Conhecimentos que estejam ou não relacionados à sua área, mas que vão agregar valor ao que você vai entregar. Experiências, técnicas, práticas, vivências, cursos que você assistiu, workshops, palestras, aprendizados que vieram com a vida.
Uma coisa que eu acho bastante curiosa (e triste, ao mesmo tempo) é que, com as minhas clientes que sofriam com isso, a lista de conhecimentos raramente era pequena. Conforme íamos conversando ia surgindo um curso aqui, um atendimento ali, uma formação acolá. Fui percebendo que as pessoas mais inseguras costumam ser as mais preparadas para começar. Em contrapartida, vejo um monte de profissionais no mercado que atuam há pouco tempo, fizeram um curso bem básico sobre o tema, assistiram uns vídeos na internet e já agem como especialistas, capazes de cobrar caro pelo que oferecem.
Se existem profissionais da sua área com um nível ridículo de conhecimento, mas que se sentem mega confiantes e cobram caro por entregas pífias (e, as vezes, até arriscadas), não é você, uma profissional mais capacitada, que vai se sentir incapaz, né?
Assumindo que você não é uma profissional como esse exemplo que acabei de dar, a única coisa que você precisa fazer agora é ir pra prática. Mais conhecimento teórico vai vir com o tempo, fique tranquila. Mas o que você precisa, mesmo, é experiência. É vivenciar a sua entrega, ver o resultado que você forneceu aos seus clientes e ir fazendo os ajustes necessários.
Comece oferecendo alguns atendimentos gratuitos ou com valor simbólico (se sua sobrevivência não depender disso). Assim você estará ganhando mais experiência, entendendo o que precisa ser melhorado e trabalhando a sua confiança, sem cobrar um valor injusto e que não condiz com o resultado que você entrega. Com o tempo, você vai se sentindo mais capaz e pode ir aumentando o valor que você cobra.
No fundo, no fundo, essa insistência de que você não sabe o suficiente é só uma desculpa que você está usando pra não começar. Mesmo que de forma inconsciente.
Então vai lá e começa :)
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