Apesar de a maioria das mulheres empreenderem por necessidade, temos uma boa parcela de mulheres empreendedoras que atuam no mercado por outras motivações
Conhecer o cenário do empreendedorismo feminino no Brasil é extremamente importante, tanto para aquelas de nós que já possuem seus próprios negócios, quanto para aquelas que ainda vão começar ou estão se preparando para fazer a transição e seguir esse caminho.
Essas informações irão ajudar você à refletir sobre quais fatores estão te levando para o caminho da vida empreendedora e a entender o que mais é importante na sua vida além do trabalho. Mas, mais do que isso, farão com que você entenda a situação de outras mulheres que estão no mesmo caminho que o seu e traz mais conhecimento para que você possa fazer a sua parte para mudar o nosso cenário. Lembre-se: conhecimento é poder.
Ainda somos minoria no mercado empreendedor brasileiro, ocupando apenas 37%. Mas temos conquistado nosso espaço nos últimos anos: entre 2015 e 2021 o número de empreendedoras formais cresceu em 29% (contra 16% no público masculino).
Sabemos que atuar como funcionária em uma empresa, seja ela qual for, não traz uma segurança considerável - mas, ainda assim, oferece mais estabilidade do que a vida empreendedora. Então, o que faz com que nós, mulheres, optássemos por assumirmos o risco de criarmos nossos próprios negócios?
Infelizmente, uma porcentagem considerável de mulheres começaram a empreender por necessidade: 47% criaram seus negócios por não conseguirem oportunidades no mercado de trabalho. Para os homens, esse número é de 34%.
Mas para aquelas que empreenderam por oportunidade (ou seja, que criaram seus negócios por decisão livre), quais são as motivações? Primeiro, precisamos entender que a nossa motivação vem como resultado de um processo psicológico, que é ativado por necessidades, afetos, valores, metas e expectativas, que nos leva a agir. Ou seja: nossas motivações são construídas a partir de diversos aspectos diferentes de nossas vidas.
Algumas pesquisas e estudos realizados ao longo dos últimos anos apontaram as principais motivações citadas por mulheres:
Quebrar o “teto de vidro” (termos que se refere às dificuldades enfrentadas pelas mulheres para crescer na carreira e chegar a posições de liderança na hierarquia das empresas, causadas por aspectos culturais que não possuem relação com a qualificação ou competência dessas mulheres);
Ter mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional, tendo assim mais facilidade para cuidar de demandas que vão além do trabalho;
Fugir da discriminação e do assédio no ambiente corporativo;
Atender a expectativa de cuidar dos filhos, da família, de pessoas idosas;
Enxergarem oportunidades no mercado;
Desejo por mais liberdade e autonomia;
Auto-realização;
Mais flexibilidade de horários;
Criar um ambiente de trabalho positivo, com liberdade para escolher clientes e colaboradores e expressar o próprio estilo de liderança (dado interessantíssimo);
O sonho de empreender.
Duas questões que pude observar nas pesquisas e que acho importantíssimo debatermos à respeito:
1. O sonho de empreender é uma motivação mencionada por 52% dos homens e apenas 33% das mulheres. Por que será que o desejo é muito maior nos homens? O que pode causar essa diferença?
Não encontrei estudos específicos sobre esse assunto mas, na minha visão, seria por causa da falta de incentivo em criarmos nossas próprias oportunidades e a desenvolvermos autonomia. Eu sinceramente não acredito em questões de gênero do tipo “homens sonham mais em ter seus próprios negócios e mulheres sonham mais em construir uma família”. Afinal, somos todos seres extremamente complexos e sabemos que muitas dessas situações são causadas pela nossa cultura.
2. Mulheres raramente mencionam o retorno financeiro como uma motivação para criarem suas próprias empresas, que priorizam mais aspectos como equilíbrio e realização. Por outro lado, esse é um dos fatores mais importantes para os homens. Essas motivações são, sim, importantes na vida empreendedora. Porém, o que faz com que as mulheres se importem menos com o retorno financeiro? (que é imprescindível para que o negócio se mantenha e para que tenhamos uma vida mais confortável. Não dá pra empreender sem pensar no lucro.)
Novamente, não encontrei estudos que justifiquem essa diferença, então trago aqui a minha opinião. Penso que alguns fatores históricos e culturais estão profundamente envolvidos nessa questão: por exemplo, o fato de que os homens, por décadas, eram os responsáveis pelas finanças da casa (e que ainda é assim em muitos lugares - mesmo que a mulher trabalhe e ganhe o próprio salário, o homem é o responsável pela administração do dinheiro).
Segundo um artigo publicado na Forbes pela educadora financeira Carol Sandler, 93% das mulheres acreditam que os homens são mais capazes de lidar com as finanças do que as mulheres. GENTE????
O que eu realmente gostaria de entender é qual situação pesa mais para essa diferença entre as motivações para empreender: a valorização de aspectos mais intangíveis como os que foram trazidos pelas pesquisas, ou o fato de que falar sobre e lidar com dinheiro ainda é um tabu para muitas mulheres?
Qual é a sua opinião a respeito?
Fontes:
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2021, IBGE
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