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Janaína Marin

A vida da mulher empreendedora e a pressão para dar conta de tudo


A mulher empreendedora e a autocobrança para dar conta de tudo

Nas últimas décadas, nós mulheres conquistamos diversos espaços e assumimos novos papeis, fora do que nos era imposto como responsabilidade principal: cuidar da casa e da família.


Conquistamos espaço no mercado de trabalho, nos dedicamos mais às nossas carreiras, crescemos nas empresas (mais ou menos), buscamos dedicar mais tempo à nós mesmas, aos estudos. Se por um lado essas conquistas foram avanços importantíssimos para nós, por outro, trouxeram também uma pressão enorme causada pela sobrecarga de tarefas.

Porque nós mudamos, mas o resto do sistema...não muito. Conquistamos muito espaço no mercado mas, na enorme maioria dos casos, ainda somos as principais responsáveis pela gestão familiar.


Muitas mulheres optam por empreender exatamente para que consigam ter mais flexibilidade de tempo e, assim, poderem equilibrar melhor o trabalho e os cuidados pessoais, cuidados da família. Mas será que esse equilíbrio existe mesmo? Pesquisas apontam que mulheres que vivem dentro desse contexto (empreendedoras, mães e principais responsáveis pela casa) trabalham cerca de 20% a menos que homens com a “mesma” rotina. Acabam passando muito menos tempo cuidando da própria vida profissional para se dedicar à outras tarefas, por conta da falta de apoio e da participação igualitária nas tarefas domésticas.


Uma outra questão que surgiu conforme fomos entrando no mercado de trabalho e ocupando cada vez mais novos espaços é a necessidade de nos provarmos, o tempo todo, capazes e competentes. De fazer o mesmo trabalho que os homens, com a mesma qualidade (se não mais). Apesar de sabermos que, em muitos casos, temos mais estudos, somos mais competentes e entregamos mais e melhor, ainda precisamos mostrar alta-performance em todos os papeis que ocupamos, para não sermos julgadas como inferiores e incompetentes (e somos, mesmo assim).


Aprendemos a ocupar o papel de super-mulher. Estamos o tempo todo correndo contra o tempo tentando dar conta de tudo com o máximo de eficiência e, quando não conseguimos, a sensação de incompetência e fracasso bate forte. Queremos ter um negócio de sucesso, queremos ser boas mães e manter um bom relacionamento, queremos cuidar de nós mesmas e da nossa saúde. Precisamos cuidar da casa e das nossas finanças. Por ser impossível dar conta de tudo, surge o sentimento de impotência, a ansiedade e o estresse.


Não à toa, nos primeiros meses da pandemia COVID-19, os negócios geridos por mulheres foram os mais impactados. Um número significativamente alto de empresas lideradas por mulheres (especialmente no caso de empreendedoras autônomas) encerraram suas atividades. Na grande maioria dos casos, o encerramento dessas empresas aconteceram porque essas mulheres, que já lutavam para equilibrar seus papeis, se viram como as únicas responsáveis para cuidar dos filhos (que passaram a estudar em casa) e de outros familiares. Se antes já era difícil “dar conta” de tudo, na pandemia ficou impossível.


Um olhar para a rotina da empreendedora autônoma

Olhando agora apenas para o papel da autônoma: a profissional responsável por todas as tarefas da empresa - da gestão, do financeiro, do atendimento ao cliente, da entrega dos serviços, das estratégias, da comunicação (e etc).


Mulheres que desejam focar na vida profissional e extremamente dedicadas à sua empresa, mesmo tendo menos papeis para ocupar (no caso daquelas que não possuem filhos, por exemplo), sofrem com a mesma pressão. A autocobrança para atingir as metas traçadas para a empresa, para cuidar de todos os departamentos sozinha, para cuidar de si mesma e da sua saúde, cuidar da casa (que não deixa de ser uma questão), de cuidar da vida social...a pressão interna é enorme.


Nos cobramos cada vez mais para dar conta de tudo e, quando não conseguimos, nos sentimos uma fraude, incapazes, frustradas por não termos dado à atenção que gostaríamos à cada parte das nossas vidas. Ficamos exaustas e não conseguimos agir. Não conseguimos focar no que estamos fazendo no momento (quando estamos cumprindo os checklists do trabalho, estamos pensando nas tarefas de casa - e vice-versa).




O que pode ser feito para lidar com essa questão?

Trago aqui algumas coisas que fui aprendendo com o tempo e que me ajudaram muito com essa questão:


Entenda que o seu tempo é finito.

Eu sei que você sabe que o dia só tem 24 horas e que você não vai viver pra sempre. Mas saber é uma coisa, compreender e interiorizar esse fato é outra completamente diferente.

Fato: você não vai ter tempo de fazer tudo o que você gostaria de fazer ao longo da sua vida, seja na vida pessoal, seja na profissional, simplesmente porque, com uma infinidade de opções...não dá tempo.


Assuma a responsabilidade pelas suas escolhas.

Ao compreender que o seu tempo é finito, você precisa aprender a fazer escolhas. Entender as suas prioridades no momento e bancar essas decisões - que, é bom lembrar, não são cravadas em pedra. Suas escolhas podem (e vão) mudar com o tempo ou caso você perceba que a sua prioridade, na verdade, é outra.


Você não é um robô.

Você só tem 24 horas no dia e, dentro desse período, é essencial incluir alguns momentos para cuidar de si mesma (mesmo que você consiga focar apenas em algumas poucas coisas, como pequenas pausas e ter uma boa noite de sono, por exemplo).

Você jamais vai conseguir dar conta das suas prioridades sem cuidar de si mesma também.


Quando a autocobrança e a culpa por não ser a mulher-maravilha ficam fortes, é normal tentar aumentar o ritmo para compensar a culpa. Fazer mais, descansar menos. E esse é o primeiro passo para uma crise de Burnout. Mais autocompaixão, menos autocobrança.


mulher empreendedora não é robô para dar conta de tudo

Entenda o que é importante para você nesse momento.

Vou trazer aqui algumas “categorias” da vida, para facilitar a explicação: carreira/sua empresa, saúde, relações amorosas, família, vida social, estudo, espiritualidade, lazer e diversão. Você não vai conseguir manter todos esses pratos equilibrados - nunca. Uns sempre estarão melhores e mais fortes do que os outros.


É comum, por exemplo, estarmos tão focadas no desenvolvimento do nosso negócio, que acabamos deixando algumas relações mais de lado. Se precisamos focar mais na nossa saúde (física e/ou mental), podemos acabar diminundo o foco no trabalho.


A questão aqui é: quais são mais importantes para você nesse momento? Se fosse para escolher 3 para focar agora, quais você escolheria?

Algumas questões para ajudar você nessa reflexão:

Além do seu negócio, o que você valoriza?

O que você ganha ao querer dar conta de todas as coisas que você deseja fazer? E o que você perde?


Que buraco interno você está querendo cobrir com esse excesso de tarefas? Qual é o vazio que você quer preencher? É porque você não enxerga valor em si mesma e no seu negócio, se não for produtiva o tempo todo? É pra compensar o sentimento de insegurança e inferioridade? É pra mostrar aos outros que você é, sim, competente? É pra fugir de alguma situação e/ou sentimento que você não está querendo lidar?


Quando tudo é prioridade, nada é prioridade.

Querer incluir diversas atividades ao longo do dia (da semana, do mês) é não conseguir realizar nenhuma de forma satisfatória. Você vai dedicar apenas um tiquinho da sua energia e atenção à cada uma delas, e vai acabar se frustrando porque não conseguiu se dedicar da forma como “deveria”. Querer dar conta de tudo ao mesmo tempo implica em fazer tudo de forma rasa e não estar verdadeiramente presente em cada atividade.


Entender e elencar as suas prioridades ajuda você a focar muito mais da sua energia nessas coisas. Fazer isso é se dar permissão para estar presente nas tarefas que você escolheu, focar a sua energia para que as coisas aconteçam.


Estabeleça no máximo 3 objetivos para o seu projeto / negócio e estabeleça prazos mais longos, mais realistas. Escolha as partes da sua vida que são mais importantes para você e aprenda a “fechar os olhos” para algumas coisas (eu, por exemplo, não gasto mais muito da minha energia me cobrando porque a casa está uma bagunça).


Dê tempo ao tempo.

Não adianta mudar todas as suas prioridades de um dia pro outro, de uma semana pra outra. É preciso sair desse imediatismo e ter paciência. É preciso dar tempo para deixar as coisas acontecerem, para as sementes germinarem e crescerem (principalmente na sua empresa).


Nada acontece do dia para a noite.

Ter um negócio humanizado é entender e colocar em prática, da forma que for possível, todas essas questões.



Ter um negócio autêntico é entender e respeitar o seu jeito de funcionar e o seu tempo de fazer as coisas. É se permitir ter a tão desejada liberdade (que você mesma está se negando) para fazer as coisas de um jeito que funciona pra você. Lembre-se de que é você quem está colocando esse peso em si mesma. Se libertar desse peso depende de você aprender a ter mais compaixão consigo mesma.


Manter um negócio (e uma vida) que faça sentido para você implica, também, em aprender a impor limites - à si mesma e aos outros. Em aprender a dizer não e a aceitar que certas coisas vão ser negligenciadas mesmo. E que tá tudo bem, não tem o que fazer.


O seu valor não depende do quanto você faz, do quanto você produz, do quão ocupada você está e nem do quão rápido você caminha.


Seguimos juntas.




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