Os Sabotadores Internos podem prejudicar, e muito, o processo de tirar a sua ideia do papel e começar a empreender
Você já ouviu falar nos “sabotadores internos”? Eles são padrões mentais e emocionais que influenciam diretamente as suas ações, a forma como você reage a algumas situações, a sua produtividade, o seu humor. Esses padrões estão sempre presentes - alguns mais fortes, outros mais fracos - e é preciso aprender a lidar com eles para que não causem impactos negativos no desenvolvimento do seu projeto, do seu negócio e em outras partes da sua vida. Cada padrão atua de maneira diferente, de acordo com as suas crenças e suposições sobre o que é melhor para você, mesmo que elas sejam inconscientes.
Acho importante trazer aqui que, apesar do nome que receberam, os sabotadores internos não são, por si só, negativos. Não são os grandes inimigos da sua felicidade, que precisam ser eliminados à qualquer custo. Precisamos levar em consideração que, assim como alguns sentimentos como medo e raiva, esses padrões servem para que você, inconscientemente, se proteja algo (como o risco de falhar e de se sentir insuficiente, por exemplo).
Todos nós somos guiados por padrões mentais e emocionais, estejamos cientes deles ou não. É comum acreditarmos que os nossos processos de tomada de decisão são totalmente racionais, mas a verdade não é bem essa - todas as nossas escolhas e decisões são feitas pelo nosso lado emocional, e influenciadas por muitos fatores (os sabotadores, as crenças, nossa história...). E é exatamente por isso que o autoconhecimento, ou seja, olhar para dentro de si, é tão importante no nosso dia-a-dia. Quando tomamos consciência de nossas características, padrões mentais e tantas outras coisas, é mais fácil nos mantermos alinhadas ao caminho que desejamos seguir.
Se você está planejando um negócio, quer tirar uma ideia do papel, olhar para dentro de si é imprescindível. Colocar um projeto no mundo é um processo de intensa transformação e que traz à tona uma série de inseguranças, medos e incertezas. Por isso, é preciso que você cuide muito bem de si mesma e entenda seus gatilhos.
Os tipos de Sabotadores Internos
Shirzad Chamine, em seu livro Inteligência Positiva, elencou dez tipos de sabotadores internos. Vou falar um pouco sobre cada um deles e suas características:
O Insistente. É perfeccionista e altamente sensível à críticas. Por ser extremamente exigente (consigo e com os outros), sempre se frustra e se decepciona quando não consegue alcançar os altos padrões que ele mesmo impõe (ou quando os outros não atingem essa meta). Costuma ser uma pessoa rígida e sem flexibilidade para lidar com as mudanças e com os estilos diferentes de outras pessoas.
O Prestativo. Possui uma grande necessidade de ser amado e de ser reconhecido pelos outros. Consegue aceitação e afeição ajudando, agradando e elogiando os outros constantemente, ao ponto de perder de vista as suas próprias necessidades (sejam elas físicas, emocionais e até mesmo financeiras). Isso faz com que a pessoa com esse tipo de sabotador acabe se sentindo ressentida, consigo mesma e com os outros, por sentir que nunca recebe de volta a mesma atenção que oferece aos outros.
O Hiper-realizador. Só se sente bem quando é validado através do seu desempenho e de suas realizações. Busca sempre mais e tem alto desejo de sucesso - o que leva essa pessoa a ter tendências de vício em trabalho e, por consequência, à sofrer da Síndrome de Burnout. É uma pessoa competitiva, que se importa muito com imagem e status. Está sempre buscando novas realizações e resultados cada vez melhores, pois acredita que o seu valor enquanto pessoa está totalmente relacionado às suas conquistas.
A Vítima. É uma pessoa que tende a remoer sentimentos negativos, o que resulta em apatia, fadiga e tristeza, podendo chegar à depressão. A Vítima gasta muita energia remoendo situações que já passaram, sentindo-se mal consigo mesma e se colocando no papel de incompreendida. É como se tudo e todos estivessem contra ela e que tudo o que acontece é para prejudicá-la.
O Hiper-racional. Racionaliza tudo, até mesmo relacionamentos amorosos. Acredita que os sentimentos são irrelevantes e, por isso, pode ser percebido como frio, distante, insensível e arrogante. Isso faz com que a pessoa se sinta diferente dos outros a sua volta, sozinho e incompreendido. A pessoa com esse sabotador usa a racionalidade extrema como armadura, para não precisar lidar com sentimentos e emoções que podem ser difíceis de serem vistos. A racionalização gera uma sensação de segurança e, também, de superioridade intelectual (o que reflete uma grande insegurança).
O Hipervigilante. É uma pessoa que está o tempo todo atenta, à tudo e à todos ao seu redor e, por isso, sofre de ansiedade contínua e intensa (que consome boa parte da sua energia). Duvida muito de si mesmo e está sempre com medo de que algo de ruim aconteça. Esse sabotador costuma surgir de experiências que ocorreram ainda na infância, em que a fonte de segurança (as figuras maternas ou paternas) era imprevisível e/ou não confiável.
O Inquieto. Um dos mais comuns atualmente, O Inquieto gasta muito de sua energia estando o tempo todo ocupado com alguma coisa, frequentemente executando mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Raramente consegue relaxar e ficar em paz, descansando, e tem muita dificuldade em realmente aproveitar a atividade que está sendo realizada, por já estar pensando na próxima experiência. Por trás dessa superfície de extrema animação existe uma fuga da realidade. A pessoa tem muita dificuldade em estar só consigo mesma, em estar presente nos momentos, o que pode incluir lidar com coisas desagradáveis. É comum de O Inquieto aparecer junto com o Hiper-Realizador e/ou o Hiper-vigilante.
O Controlador. Possui uma grande necessidade de assumir o controle e a responsabilidade de diversas situações, mesmo que contra a vontade de outras pessoas. É comum andar junto com o perfeccionismo (que é, também, uma forma de controle), e causa grande frustração, ansiedade e até mesmo raiva quando as coisas não saem da forma como era desejado. O Controlador possui uma certa dificuldade em se relacionar com outras pessoas, conectando-se por meio de competição, desafios e conflitos. Sua comunicação é bastante direta e, em muitos casos, em tom de ordem.
O Esquivo. Evita conflitos à todo custo, foge de tarefas difíceis e desagradáveis e acaba dizendo “sim” para coisas que não deseja realmente, por medo de não agradar. Foca no lado positivo e nas coisas agradáveis de maneira extrema, fugindo um pouco da realidade como ela é. A fuga de conflitos faz com que seus relacionamentos sejam mantidos à um nível superficial.
O Crítico. Está sempre encontrando defeitos em si mesmo, nos outros e nas circunstâncias, em tudo ao seu redor. Passa muito tempo se atormentando por erros que aconteceram no passado e por falhas atuais, por situações que, ao seu modo de pensar, não foram feitas da melhor forma possível (já deu pra perceber que O Crítico também anda junto com O Perfeccionista, não é?) Faz muitas comparações, classificando o que (ou quem) é inferior e superior e se concentra demais nas falhas e defeitos dos outros, ao invés de apreciar as coisas boas. Sentimentos como culpa, arrependimento, decepção, raiva e ansiedade são associados à esse sabotador.
Todas nós temos sabotadores internos, que podem ou não estarem associados uns aos outros (como é o caso do crítico e do perfeccionista, por exemplo). Você se identificou com algum deles?
Percebi alguns no meu jeito de ser...e agora?
Como eu mencionei mais acima, é preciso entender que esses sabotadores não são ruins em sua essência - são formas que você, inconscientemente, encontrou de se proteger de algumas situações. Por isso, não se preocupe em gastar sua energia querendo eliminá-los à qualquer custo. Os sabotadores também fazem parte de você e de quem você é.
Tendo isso em mente, reconhecê-los e saber que eles estão presentes é o primeiro passo para que esses sabotadores não atuem com tanta força. Saber quais são predominantes irá ajudar você diminuí-los.
Encare seus sabotadores como partes de você, e faça isso sem cobranças, sem se vitimizar perante eles (lembre-se de que isso também é um sabotador), sem medo e com muita autocompaixão. Se observe no dia a dia e repare quando eles aparecem, quais são as suas reações e quais situações fizeram com que você reagisse à partir desses sabotadores. É um processo longo, que exige atenção, paciência consigo mesma e vontade de mudar. Lembre-se de que você está acostumada a (re)agir dessa forma e que vai precisar reeducar o seu comportamento.
A psicoterapia pode ajudar bastante nesse processo. Se for o caso, procure a ajuda de uma boa psicóloga.
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